na verdade, não lembro nem com quem eu tive essa conversa, muito menos quando ela ocorreu. talvez eu nem lembre por que não aconteceu mesmo. é uma daquelas conversas que a gente não tem, mas sabe que existe.
e era sobre o valor das pessoas.
o valor que a gente atribui a elas, sem que elas saibam, mas depois vai lá cobrar.
aparentemente, quando eu nasci, me atribuíram o valor de boa menina, princesinha, meiga, a doçura da casa.
não sei se cumpri meu papel.
em seguida, quando minha mãe morreu, me atribuíram o valor de moça forte, determinada, que ia cuidar dos homens da casa.
e esse papel aí eu tenho certeza que não cumpri.
por que não foi me dada a chance de optar.
não escolhi assumir o lugar da minha mãe de redentora dessa família, de mártir pelo bem estar geral.
eu nem sei se gosto desse bem estar geral.
costumo questionar até as coisas que aprecio, que faço e que penso só pra causar mal estar.
não sei nem se queria escolher alguma coisa.
mas agora isso não faz diferença.
a cobrança veio, e eu não tive como pagar.
o agiota fez minha fama no mercado, não tenho mais crédito em nenhum lugar.
perdi o valor que me foi dado.
espero que seja a chance de assumir um valor que eu mesma queira me dar.
