quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

terceiro trimestre

Eu sinceramente já perdi as contas. Estamos com 35 semanas. Ou 36. Acredito que é o oitavo mês de gestação, mas não posso afirmar com toda a certeza por que pra mim parece que estamos estacionados aqui a mais ou menos oito anos. Ou uma década. 
Não sei o que houve mas o tempo parou de passar. Os dias até que passam ligeiro, mas cadê que Miguel vem? 
As coisas estão quase todas prontas. Quarto pintado, móveis montados, roupinhas lavadas (graças a vovó Conceição Marques) e toda a sorte de tranqueiras aparentemente essenciais para a sobrevivência do bebê fora do bucho devidamente compradas ou ganhadas (muito obrigada a todos os amigos e parentes, Miguel já tem mais coisas e roupas que eu e o pai dele juntos). 
Meus seios já pingam leite. O plano de parto está quase pronto. 
Maternidade escolhida. Equipe completa.
Nossa casa toda organizada. Com direito a um quadro com horários e telefones de todas as escolas onde Rafa dá aula, para que eu possa ligar quando entrar em trabalho de parto.
Mas bebê que é bom... nada.
Então eu espero, né? Todo dia. Todas as horas.
Pra não ficar presa nessa expectativa louca, tenho aceitado todo convite que me fazem, toda proposta, qualquer desculpa pra sair de casa e fazer algo diferente de esperar está sendo muito bem vinda. 
E na outra parte do tempo eu falo com Miguel. Sempre falei, mas agora... é um papo interminável, discutimos política, esporte, religião, fofoca, relacionamentos amorosos... Passo o dia inteiro interagindo com o meu bichinho. Ás vezes ponho o som bem alto (pra garantir que ele vai ouvir) e o chamo pra dançar. Curiosamente, Miguel tem mostrado predileção por ritmos latinos e System of a Down. É colocar Capim Cubano ou Shop Suey pra tocar que ele se agita todo. Então eu boto, né? Gosto não se discute. 
...
Já disse a vocês que nove meses é tempo demais? 
É sim.
Mas pensando bem... Agora nós já conseguimos nos relacionar com nosso bebê. Rafa dá tchau pra ele todo dia antes de ir trabalhar. E desembestei de um jeito que tenho certeza que assim que ele aprender a falar vai me dizer "por favor mamãe, cala a boca". 
...
Está tudo dando certo. Só falta o resto de nossas vidas. 
Veeeem, meu bebê!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

segundo trimestre

estou voltando aqui para registrar o meu segundo trimestre de gestação, o período mais estranho, inconvenientemente tranquilo, que sucede o susto da descoberta e precede a intensidade da reta final.
é que depois que eu descobri que havia um menininho dentro de mim, mudou tudo na minha vida, na minha cabeça, no meu coração, no meu estado civil e até no meu endereço.
eu não sou mais uma estudante dedicada, nem uma estagiária esforçada. também não sou mais a neta que mora com os avós, a amiga que fica até tarde na balada, nem apenas a namoradinha de Rafael.
passei a ser alguém que vai pra aula quando dá, que não recebe mais bolsa de estágio e nem de pesquisa (um oferecimento governo Temer, obrigada paneleiros!). vim morar numa casinha que tá ficando cada dia mais bonita (um oferecimento do melhor sogro do mundo, obrigada vô de Miguel!) e todo dia escuto ou pergunto “quer casar comigo?” de um Rafael que por vezes responde “a gente já tá casado”, mas que já aprendeu que não importa, eu preciso fazer uma festa e tirar fotos disso assim que possível.
mas sabe? depois que tudo mudou as coisas se acalmaram bastante e eu fiquei... ué.
quer dizer, quem sou eu pra criticar mas acho que nove meses é tempo demais, viu? deu tempo pra a gente descobrir, aceitar, avisar a todo mundo, mudar de casa, de trabalho. deu tempo de fazer um monte de exame, descobrir o sexo do bebê, escolher nome, de fazer festa na casa nova e a barriga nem sequer aparecia! que judiação!
aliás, não sei o que me deu mas senti uma tristeza profunda quando os enjôos passaram por que eu os odiava mas veja bem, sem eles, nada mais me lembrava que eu estava esperando o meu filhinho.
pra se ter idéia, uma noite aqui em casa, pouco antes de dormir:
“amor, tô com saudade do bebê”
“de quem?”
“de Miguel”
“gatinha, você sabe que ele tá aí dentro de você, né?”
sabia. sei. mas saber não basta, né? eu precisava de um pouco mais de interação.
de modos que resolvemos a questão da maneira mais sensata possível: sempre que podia eu inventava algum sintoma só pra ir na maternidade e ser consultada por um ginecologista na urgência, por que eles tem um aparelhinho mágico que encosta na barriga e você escuta os batimentos cardíacos do bebê. é maravilhoso! e com o tempo, depois de muitas idas você acaba descobrindo que em certos horários e fazendo o drama correto, é possível convencer o médico a fazer uma ultrassonografia de emergência onde você não só escuta o coraçãozinho como vê o filhotinho se mexendo todo dentro da pança! recomendo muitíssimo.
enfim... houve uma melhora considerável nos enjoos, eu recuperei os quilos perdidos nos primeiros meses, com o tempo até uma saliência começou a surgir, precisei comprar roupas novas.
esqueci de tirar fotos padronizadas pra fazer o acompanhamento mensal da barriga, mas passei horas me olhando no espelho alisando a barriguinha e me concentrando nela ao menor sinal de movimento que sentia.
geralmente eram gases rs.
mas teve um dia em que, já deitada na cama, esperando o sono vir, senti uma movimentação estranha que não cessava. também não vinha o peido então... eu chorei bastante.
pus a mão de Rafa na minha barriga e como ele não sentiu nada perdeu o que eu considero o primeiro movimento perceptível do nosso filhote. sério. tenho certeza de que era ele e com o começo dessas movimentação eu dei um descanso pra Rafa por que não precisei mais ir na Promater ter certeza que Miguel estava aqui.
sinto que Miguel está cada dia mais próximo de mim, mais presente, mais real. passou a fazer sentido falar com a barriga. e eu fiquei definitivamente mais lacrimosa, muito mais distraída e também mais redondinha.
não sou e nem esperava ser a grávida mais romântica do planeta, precisei mesmo que Rafa me apoiasse, que um aparelhinho me mostrasse quase que semanalmente que meu filho estava aqui dentro de mim. precisei repetir todo dia, até os ouvidos de Rafael adquirirem calos “amor, eu tô grávidaaa”. pois pra mim é mesmo difícil de acreditar.  mas não deixei de me emocionar a cada mexidinha, a cada ultrassonografia e a cada presente ganho ou roupinha comprada. aliás, quantos presentes ganhamos!! principalmente no meu aniversário, em setembro. só ganhei roupinhas e sapatinhos infantis. achei fofo.
também fiquei meio sem critérios, sem paciência, meio de TPM mesmo. achando pêlo em ovo, extorquindo declarações de amor de Rafael, revirando os olhinhos e pensando “que saco” com tanta gente dando palpite e se metendo na minha vida.
por outro lado, é muito bom perceber como uma criança que nem nasceu ainda já desperta tantos sentimentos bons em tanta gente. Eu e Rafael estamos cercados de amor! nossos amigos, nossos parentes. todo mundo quer estar mais perto, tem uma ajuda pra oferecer ou ainda um presente lindo pra dar.
isso tudo significa que continuamos felizes e em paz. uma paz meio agoniada, envolta na ansiedade da espera. mas o loooongos seis primeiros meses passaram e agora falta pouco.

veeem, Miguel.

domingo, 13 de novembro de 2016

"você nunca mais será a mesma"

Em todas as ultrassonografias que fiz, os médicos comentam como Miguel está maior que o percentual esperado pra sua idade gestacional. Eu fico orgulhosa por que sou neta de Dona Dadá e tenho aquela ilusão de que criança saudável é criança gordinha.
Outro fato é que todo mundo sabe da minha predileção pelo parto normal. Mais do que isso, quem perdeu tempo conversando um pouco comigo sabe que faço questão de trazer meu filho ao mundo da maneira mais natural possível.
No começo muita gente ficou assustada. É quase como se eu dissesse que aos nove meses de gestação pretendo escalar o Everest. Muita gente duvida, muita gente me põe medo. Eu tento levar pro pessoal, mas queria dizer que percebo todas as tentativas de me desencorajar e isso não é legal.
Enfim... Tudo isso pra dizer que ultimamente quando me perguntam sobre Miguel eu digo feliz que ele está bem, se mexe muito e tá bem gordinho! O engraçado é que hoje pela terceira vez, alguém reagiu a essa informação dizendo algo como "e você ainda quer ter um parto normal? nooossa, vai fazer um estrago lá em baixo".
Hahahahahaha
Ai, gente. Vamos ter mais pudor ao falar das partes íntimas dos outros.
Sou mocinha comprometida e sabe quem é a única pessoa que não se preocupa nem um pouco com essa questão?
Rafael.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

a maior novidade do mundo

eu estou grávida.
essa é uma enorme novidade, mas também é notícia velha uma vez que pelos cálculos médicos essa gestação já tem 24 semanas e alguns dias.
muita gente, eu inclusa, se confunde com essa contagem médica em semanas. também prefiro falar em meses. são 6 meses.
e parece que já foi uma vida inteira.

...

sempre gostei de escrever e quero deixar aqui registrado para lembrar depois, um pouco sobre a minha gravidez.
começo com atraso, por isso vou narrando as impressões dos primeiros três meses.
outra hora falo sobre o que estou sentindo agora.

...

não precisei de muito tempo pra descobrir a gravidez.
por outro lado, precisei de muito tempo pra entender, pra aceitar.

...

um namoro de poucos meses, com um cara que conheço a anos, de quem não conseguia desgrudar por muitos dias.
após um breve período me atrapalhando toda com os métodos contraceptivos, estava lavando a louça no apê de Rafa quando ele me questionou:
"gatinha, quando você vai fazer o teste de gravidez?"
eu não poderia ter sido mais surpreendida
"por que eu faria?
"..."
"só atrasou um dia e eu tomei o remédio todo errado esse mês"
"se eu fosse você faria"
"vai descer"
"você não teve TPM esse mês"
vê? eu não me apaixonei a toa.
Rafa tem esse jeitinho tranquilo, meio alheio. mas ele é surpreendente. bobo é quem acredita na fachada. Rafa me olha como ninguém, repara direitinho. ele dá conta de tudo, só é esperto demais pra gastar energia com qualquer coisa.
tenho tanto a aprender com ele...
mas enfim. é óbvio que esse papo me deixou apreensiva. pensei "agora vou ter que comprar o teste de qualquer maneira, que tensa desse jeito a menstruação não vai descer"
por que eu tinha certeza, né? que dali a poucos dias a menstruação viria.
nunca tinha engravidado antes, por que agora?
chega a ser engraçado lembrar disso.

daí que eu dormi na casa dele aquele dia, pra variar. e antes de dormir combinamos que entre uma aula e outra da manhã, ele passaria na farmácia e me traria o teste.

no dia seguinte fui acordada com um beijinho e a pergunta "já fez xixi hoje?". levantei num pulo.
Rafa havia comprado aquele teste mais carinho, diferente. mas o procedimento era o mesmo: urinar no bastão e esperar alguns minutos pelo resultado.
já sozinha no banheiro, não precisei esperar um minuto sequer. foi instantâneo. xixi no bastão, ato contínuo duas listras vermelhas formando uma cruz apareceram no visor.
o que caralhos significava aquilo?
"amooor, me dá o gabarito desse troço"
e nossa, eu pensei que ia desmaiar.
corri pra cama por que minhas pernas tremiam. fui invadida por um pânico que me fez esquecer inclusive o motivo de estar chorando. tirei o rosto do travesseiro, olhei pra Rafael, meu namorado, a pessoa mais tranquila do universo que me olhava como se lidasse com uma coisa dessas todos os dias
"respira, gatinha. tenha calma. não fica assim, vamos conversar?"
e olha, nós conversamos, viu. durante horas. durante dias.
todo noite antes de dormir, por uma ou duas semanas.
muitas decisões foram tomadas naquela cama que já era um pouco minha de tanto que eu ficava por lá.
até que um dia a gente não tinha mais tanto o que ponderar. só reconhecer.
"eu te amo"
"eu também. muito"
e assim decidimos.

fomos contando para as pessoas aos poucos. depois de um mês. ou mais.
minha rotina já estava impraticável. não sei como ninguém desconfiou antes.
parei de beber, parei de comer, parei de sair de casa. aliás, eu nem sabia mais onde era a minha casa.
precisava ficar perto de Rafa e só ia na casa dos meus avós pra mostrar que estava viva e pegar umas roupas limpas.
ok, eles devem ter percebido.
eu só vomitava e chorava. chorava de fome. chorava por que não é legal sentir enjoo da hora que acorda a hora que vai dormir. chorava por que estava descontrolada. chorava de medo. chorava por que sim. chorava por que não.
perdi 3 quilos e o meu primeiro sentimento pelo bebê que me habitava apareceu aí.
fiquei preocupada com ele. "ai meu deus, será que ele tá passando fome?"
infelizmente biologia não é o meu forte. felizmente esse bebê tem pai e ele sim, é um gênio (não só no campo das ciências biológicas).
"o bebê tá ótimo, gatinha. ruim tá você com tanto enjoo, vamos no hospital pra você não desidratar".
e foi assim que virei sócia da Promater! bati ponto lá toda semana, pra tomar soro por que mal conseguia me alimentar.
fui também pra minha primeira consulta pré-natal.
Rafa não tinha horário disponível, estava trabalhando. como não queria ir sozinha levei Julia, melhor amiga da vida. e foi gostoso demais.
a obstetra me tratou como se eu fosse a primeira gestante que ela viu na vida. a consulta foi uma festa!
eu sorri o tempo inteiro, fiz um monte de perguntas e percebi que estava empolgada com a idéia.
fui contaminada pela alegria de Julia, pela alegria da médica... pela minha própria alegria que estava escondida esperando a hora certa de aparecer.
sai de lá com receita para comprar ácido fólico e a solicitação de uma bateria de exames.
tava acontecendo mesmo. uau!

...

o primeiro trimestre foi assim como eu falei.
dia 30 de maio fiz o teste de farmácia e o exame de sangue para confirmar.
deste dia em diante fiquei no colo de Rafa, levando um bom tempo pra entender.
as vezes parece que ele lidou melhor com tudo isso, esteve pronto mais rápido. mas até hoje desconfio que ele se forçou a isso pra me apoiar, pra transmitir a segurança que eu precisava.
de todo modo, foi um período de preparação emocional, mesmo.
levamos o tempo que precisamos pra contar as pessoas, para tomar qualquer outra providência, aliás.
fora isso, não sei como sobrevivi a tanto enjoo e tão pouca comida.
também fui a algumas consultas pré natais. mostrei meus exames e fiz uma ultrassonografia. ah ultra ssonografia!!!! a primeira. ia esquecendo. o nome é translucência nucal e mostra se o bebê tem alguma síndrome ou anomalia cromossômica, entre outras interessâncias.
dessa vez eu fui sozinha. a clínica se confundiu com os horários. me ligaram de ultima hora, uma confusão daquelas que só eu tenho a sorte de viver.
cheguei lá ansiosa e esbaforida. pra completar a médica que fez o ultrassom bagunçou a minha cabeça:
"quantas semanas de gestação?"
"pela última menstruação eu tô com 13 semanas"
"certeza?"
"é, ué"
"pois aqui parece mais. seu bebê é enorme. não vou poder medir a nuca, mas ele está bem, viu?
já tô vendo até o sexo. quer saber?"
"oi?"
"é menino"
AI MEU DEUS.
eu fiquei toda derretida vendo aqueles vultos na tela, a médica se esforçou pra me explicar o que tava acontecendo mas eu confesso que não entendi nada, não reconheci nada. apenas me contentei com o comentário final "tá tudo bem com seu bebê. e é mesmo um menino!"
liguei imediatamente pra Rafa. "é um menininho, amor"
nós vamos ter um menino.
contamos a todo mundo! foi um dia muito feliz.

...

junho... julho....
fim do primeiro trimestre.
finalmente melhorando dos enjoos.
sexo do bebê sabido. nome do bebê escolhido.
vai se chamar Miguel!
decidimos morar juntos. outro endereço. não caberíamos os três no apê de Rafa.
um fim de semana de mudanças e... cá estamos. numa casinha nova.
o chororô passou. agora a gente faz graça e é feliz todo dia.
Miguel tá chegando...

em breve falo sobre o segundo trimestre.



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

terceiro trimestre

Eu sinceramente já perdi as contas. Estamos com 35 semanas. Ou 36. Acredito que é o oitavo mês de gestação, mas não posso afirmar com toda a certeza por que pra mim parece que estamos estacionados aqui a mais ou menos oito anos. Ou uma década. 
Não sei o que houve mas o tempo parou de passar. Os dias até que passam ligeiro, mas cadê que Miguel vem? 
As coisas estão quase todas prontas. Quarto pintado, móveis montados, roupinhas lavadas (graças a vovó Conceição Marques) e toda a sorte de tranqueiras aparentemente essenciais para a sobrevivência do bebê fora do bucho devidamente compradas ou ganhadas (muito obrigada a todos os amigos e parentes, Miguel já tem mais coisas e roupas que eu e o pai dele juntos). 
Meus seios já pingam leite. O plano de parto está quase pronto. 
Maternidade escolhida. Equipe completa.
Nossa casa toda organizada. Com direito a um quadro com horários e telefones de todas as escolas onde Rafa dá aula, para que eu possa ligar quando entrar em trabalho de parto.
Mas bebê que é bom... nada.
Então eu espero, né? Todo dia. Todas as horas.
Pra não ficar presa nessa expectativa louca, tenho aceitado todo convite que me fazem, toda proposta, qualquer desculpa pra sair de casa e fazer algo diferente de esperar está sendo muito bem vinda. 
E na outra parte do tempo eu falo com Miguel. Sempre falei, mas agora... é um papo interminável, discutimos política, esporte, religião, fofoca, relacionamentos amorosos... Passo o dia inteiro interagindo com o meu bichinho. Ás vezes ponho o som bem alto (pra garantir que ele vai ouvir) e o chamo pra dançar. Curiosamente, Miguel tem mostrado predileção por ritmos latinos e System of a Down. É colocar Capim Cubano ou Shop Suey pra tocar que ele se agita todo. Então eu boto, né? Gosto não se discute. 
...
Já disse a vocês que nove meses é tempo demais? 
É sim.
Mas pensando bem... Agora nós já conseguimos nos relacionar com nosso bebê. Rafa dá tchau pra ele todo dia antes de ir trabalhar. E desembestei de um jeito que tenho certeza que assim que ele aprender a falar vai me dizer "por favor mamãe, cala a boca". 
...
Está tudo dando certo. Só falta o resto de nossas vidas. 
Veeeem, meu bebê!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

segundo trimestre

estou voltando aqui para registrar o meu segundo trimestre de gestação, o período mais estranho, inconvenientemente tranquilo, que sucede o susto da descoberta e precede a intensidade da reta final.
é que depois que eu descobri que havia um menininho dentro de mim, mudou tudo na minha vida, na minha cabeça, no meu coração, no meu estado civil e até no meu endereço.
eu não sou mais uma estudante dedicada, nem uma estagiária esforçada. também não sou mais a neta que mora com os avós, a amiga que fica até tarde na balada, nem apenas a namoradinha de Rafael.
passei a ser alguém que vai pra aula quando dá, que não recebe mais bolsa de estágio e nem de pesquisa (um oferecimento governo Temer, obrigada paneleiros!). vim morar numa casinha que tá ficando cada dia mais bonita (um oferecimento do melhor sogro do mundo, obrigada vô de Miguel!) e todo dia escuto ou pergunto “quer casar comigo?” de um Rafael que por vezes responde “a gente já tá casado”, mas que já aprendeu que não importa, eu preciso fazer uma festa e tirar fotos disso assim que possível.
mas sabe? depois que tudo mudou as coisas se acalmaram bastante e eu fiquei... ué.
quer dizer, quem sou eu pra criticar mas acho que nove meses é tempo demais, viu? deu tempo pra a gente descobrir, aceitar, avisar a todo mundo, mudar de casa, de trabalho. deu tempo de fazer um monte de exame, descobrir o sexo do bebê, escolher nome, de fazer festa na casa nova e a barriga nem sequer aparecia! que judiação!
aliás, não sei o que me deu mas senti uma tristeza profunda quando os enjôos passaram por que eu os odiava mas veja bem, sem eles, nada mais me lembrava que eu estava esperando o meu filhinho.
pra se ter idéia, uma noite aqui em casa, pouco antes de dormir:
“amor, tô com saudade do bebê”
“de quem?”
“de Miguel”
“gatinha, você sabe que ele tá aí dentro de você, né?”
sabia. sei. mas saber não basta, né? eu precisava de um pouco mais de interação.
de modos que resolvemos a questão da maneira mais sensata possível: sempre que podia eu inventava algum sintoma só pra ir na maternidade e ser consultada por um ginecologista na urgência, por que eles tem um aparelhinho mágico que encosta na barriga e você escuta os batimentos cardíacos do bebê. é maravilhoso! e com o tempo, depois de muitas idas você acaba descobrindo que em certos horários e fazendo o drama correto, é possível convencer o médico a fazer uma ultrassonografia de emergência onde você não só escuta o coraçãozinho como vê o filhotinho se mexendo todo dentro da pança! recomendo muitíssimo.
enfim... houve uma melhora considerável nos enjoos, eu recuperei os quilos perdidos nos primeiros meses, com o tempo até uma saliência começou a surgir, precisei comprar roupas novas.
esqueci de tirar fotos padronizadas pra fazer o acompanhamento mensal da barriga, mas passei horas me olhando no espelho alisando a barriguinha e me concentrando nela ao menor sinal de movimento que sentia.
geralmente eram gases rs.
mas teve um dia em que, já deitada na cama, esperando o sono vir, senti uma movimentação estranha que não cessava. também não vinha o peido então... eu chorei bastante.
pus a mão de Rafa na minha barriga e como ele não sentiu nada perdeu o que eu considero o primeiro movimento perceptível do nosso filhote. sério. tenho certeza de que era ele e com o começo dessas movimentação eu dei um descanso pra Rafa por que não precisei mais ir na Promater ter certeza que Miguel estava aqui.
sinto que Miguel está cada dia mais próximo de mim, mais presente, mais real. passou a fazer sentido falar com a barriga. e eu fiquei definitivamente mais lacrimosa, muito mais distraída e também mais redondinha.
não sou e nem esperava ser a grávida mais romântica do planeta, precisei mesmo que Rafa me apoiasse, que um aparelhinho me mostrasse quase que semanalmente que meu filho estava aqui dentro de mim. precisei repetir todo dia, até os ouvidos de Rafael adquirirem calos “amor, eu tô grávidaaa”. pois pra mim é mesmo difícil de acreditar.  mas não deixei de me emocionar a cada mexidinha, a cada ultrassonografia e a cada presente ganho ou roupinha comprada. aliás, quantos presentes ganhamos!! principalmente no meu aniversário, em setembro. só ganhei roupinhas e sapatinhos infantis. achei fofo.
também fiquei meio sem critérios, sem paciência, meio de TPM mesmo. achando pêlo em ovo, extorquindo declarações de amor de Rafael, revirando os olhinhos e pensando “que saco” com tanta gente dando palpite e se metendo na minha vida.
por outro lado, é muito bom perceber como uma criança que nem nasceu ainda já desperta tantos sentimentos bons em tanta gente. Eu e Rafael estamos cercados de amor! nossos amigos, nossos parentes. todo mundo quer estar mais perto, tem uma ajuda pra oferecer ou ainda um presente lindo pra dar.
isso tudo significa que continuamos felizes e em paz. uma paz meio agoniada, envolta na ansiedade da espera. mas o loooongos seis primeiros meses passaram e agora falta pouco.

veeem, Miguel.

domingo, 13 de novembro de 2016

"você nunca mais será a mesma"

Em todas as ultrassonografias que fiz, os médicos comentam como Miguel está maior que o percentual esperado pra sua idade gestacional. Eu fico orgulhosa por que sou neta de Dona Dadá e tenho aquela ilusão de que criança saudável é criança gordinha.
Outro fato é que todo mundo sabe da minha predileção pelo parto normal. Mais do que isso, quem perdeu tempo conversando um pouco comigo sabe que faço questão de trazer meu filho ao mundo da maneira mais natural possível.
No começo muita gente ficou assustada. É quase como se eu dissesse que aos nove meses de gestação pretendo escalar o Everest. Muita gente duvida, muita gente me põe medo. Eu tento levar pro pessoal, mas queria dizer que percebo todas as tentativas de me desencorajar e isso não é legal.
Enfim... Tudo isso pra dizer que ultimamente quando me perguntam sobre Miguel eu digo feliz que ele está bem, se mexe muito e tá bem gordinho! O engraçado é que hoje pela terceira vez, alguém reagiu a essa informação dizendo algo como "e você ainda quer ter um parto normal? nooossa, vai fazer um estrago lá em baixo".
Hahahahahaha
Ai, gente. Vamos ter mais pudor ao falar das partes íntimas dos outros.
Sou mocinha comprometida e sabe quem é a única pessoa que não se preocupa nem um pouco com essa questão?
Rafael.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

a maior novidade do mundo

eu estou grávida.
essa é uma enorme novidade, mas também é notícia velha uma vez que pelos cálculos médicos essa gestação já tem 24 semanas e alguns dias.
muita gente, eu inclusa, se confunde com essa contagem médica em semanas. também prefiro falar em meses. são 6 meses.
e parece que já foi uma vida inteira.

...

sempre gostei de escrever e quero deixar aqui registrado para lembrar depois, um pouco sobre a minha gravidez.
começo com atraso, por isso vou narrando as impressões dos primeiros três meses.
outra hora falo sobre o que estou sentindo agora.

...

não precisei de muito tempo pra descobrir a gravidez.
por outro lado, precisei de muito tempo pra entender, pra aceitar.

...

um namoro de poucos meses, com um cara que conheço a anos, de quem não conseguia desgrudar por muitos dias.
após um breve período me atrapalhando toda com os métodos contraceptivos, estava lavando a louça no apê de Rafa quando ele me questionou:
"gatinha, quando você vai fazer o teste de gravidez?"
eu não poderia ter sido mais surpreendida
"por que eu faria?
"..."
"só atrasou um dia e eu tomei o remédio todo errado esse mês"
"se eu fosse você faria"
"vai descer"
"você não teve TPM esse mês"
vê? eu não me apaixonei a toa.
Rafa tem esse jeitinho tranquilo, meio alheio. mas ele é surpreendente. bobo é quem acredita na fachada. Rafa me olha como ninguém, repara direitinho. ele dá conta de tudo, só é esperto demais pra gastar energia com qualquer coisa.
tenho tanto a aprender com ele...
mas enfim. é óbvio que esse papo me deixou apreensiva. pensei "agora vou ter que comprar o teste de qualquer maneira, que tensa desse jeito a menstruação não vai descer"
por que eu tinha certeza, né? que dali a poucos dias a menstruação viria.
nunca tinha engravidado antes, por que agora?
chega a ser engraçado lembrar disso.

daí que eu dormi na casa dele aquele dia, pra variar. e antes de dormir combinamos que entre uma aula e outra da manhã, ele passaria na farmácia e me traria o teste.

no dia seguinte fui acordada com um beijinho e a pergunta "já fez xixi hoje?". levantei num pulo.
Rafa havia comprado aquele teste mais carinho, diferente. mas o procedimento era o mesmo: urinar no bastão e esperar alguns minutos pelo resultado.
já sozinha no banheiro, não precisei esperar um minuto sequer. foi instantâneo. xixi no bastão, ato contínuo duas listras vermelhas formando uma cruz apareceram no visor.
o que caralhos significava aquilo?
"amooor, me dá o gabarito desse troço"
e nossa, eu pensei que ia desmaiar.
corri pra cama por que minhas pernas tremiam. fui invadida por um pânico que me fez esquecer inclusive o motivo de estar chorando. tirei o rosto do travesseiro, olhei pra Rafael, meu namorado, a pessoa mais tranquila do universo que me olhava como se lidasse com uma coisa dessas todos os dias
"respira, gatinha. tenha calma. não fica assim, vamos conversar?"
e olha, nós conversamos, viu. durante horas. durante dias.
todo noite antes de dormir, por uma ou duas semanas.
muitas decisões foram tomadas naquela cama que já era um pouco minha de tanto que eu ficava por lá.
até que um dia a gente não tinha mais tanto o que ponderar. só reconhecer.
"eu te amo"
"eu também. muito"
e assim decidimos.

fomos contando para as pessoas aos poucos. depois de um mês. ou mais.
minha rotina já estava impraticável. não sei como ninguém desconfiou antes.
parei de beber, parei de comer, parei de sair de casa. aliás, eu nem sabia mais onde era a minha casa.
precisava ficar perto de Rafa e só ia na casa dos meus avós pra mostrar que estava viva e pegar umas roupas limpas.
ok, eles devem ter percebido.
eu só vomitava e chorava. chorava de fome. chorava por que não é legal sentir enjoo da hora que acorda a hora que vai dormir. chorava por que estava descontrolada. chorava de medo. chorava por que sim. chorava por que não.
perdi 3 quilos e o meu primeiro sentimento pelo bebê que me habitava apareceu aí.
fiquei preocupada com ele. "ai meu deus, será que ele tá passando fome?"
infelizmente biologia não é o meu forte. felizmente esse bebê tem pai e ele sim, é um gênio (não só no campo das ciências biológicas).
"o bebê tá ótimo, gatinha. ruim tá você com tanto enjoo, vamos no hospital pra você não desidratar".
e foi assim que virei sócia da Promater! bati ponto lá toda semana, pra tomar soro por que mal conseguia me alimentar.
fui também pra minha primeira consulta pré-natal.
Rafa não tinha horário disponível, estava trabalhando. como não queria ir sozinha levei Julia, melhor amiga da vida. e foi gostoso demais.
a obstetra me tratou como se eu fosse a primeira gestante que ela viu na vida. a consulta foi uma festa!
eu sorri o tempo inteiro, fiz um monte de perguntas e percebi que estava empolgada com a idéia.
fui contaminada pela alegria de Julia, pela alegria da médica... pela minha própria alegria que estava escondida esperando a hora certa de aparecer.
sai de lá com receita para comprar ácido fólico e a solicitação de uma bateria de exames.
tava acontecendo mesmo. uau!

...

o primeiro trimestre foi assim como eu falei.
dia 30 de maio fiz o teste de farmácia e o exame de sangue para confirmar.
deste dia em diante fiquei no colo de Rafa, levando um bom tempo pra entender.
as vezes parece que ele lidou melhor com tudo isso, esteve pronto mais rápido. mas até hoje desconfio que ele se forçou a isso pra me apoiar, pra transmitir a segurança que eu precisava.
de todo modo, foi um período de preparação emocional, mesmo.
levamos o tempo que precisamos pra contar as pessoas, para tomar qualquer outra providência, aliás.
fora isso, não sei como sobrevivi a tanto enjoo e tão pouca comida.
também fui a algumas consultas pré natais. mostrei meus exames e fiz uma ultrassonografia. ah ultra ssonografia!!!! a primeira. ia esquecendo. o nome é translucência nucal e mostra se o bebê tem alguma síndrome ou anomalia cromossômica, entre outras interessâncias.
dessa vez eu fui sozinha. a clínica se confundiu com os horários. me ligaram de ultima hora, uma confusão daquelas que só eu tenho a sorte de viver.
cheguei lá ansiosa e esbaforida. pra completar a médica que fez o ultrassom bagunçou a minha cabeça:
"quantas semanas de gestação?"
"pela última menstruação eu tô com 13 semanas"
"certeza?"
"é, ué"
"pois aqui parece mais. seu bebê é enorme. não vou poder medir a nuca, mas ele está bem, viu?
já tô vendo até o sexo. quer saber?"
"oi?"
"é menino"
AI MEU DEUS.
eu fiquei toda derretida vendo aqueles vultos na tela, a médica se esforçou pra me explicar o que tava acontecendo mas eu confesso que não entendi nada, não reconheci nada. apenas me contentei com o comentário final "tá tudo bem com seu bebê. e é mesmo um menino!"
liguei imediatamente pra Rafa. "é um menininho, amor"
nós vamos ter um menino.
contamos a todo mundo! foi um dia muito feliz.

...

junho... julho....
fim do primeiro trimestre.
finalmente melhorando dos enjoos.
sexo do bebê sabido. nome do bebê escolhido.
vai se chamar Miguel!
decidimos morar juntos. outro endereço. não caberíamos os três no apê de Rafa.
um fim de semana de mudanças e... cá estamos. numa casinha nova.
o chororô passou. agora a gente faz graça e é feliz todo dia.
Miguel tá chegando...

em breve falo sobre o segundo trimestre.